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18 de fevereiro de 2012

HISTÓRIAS CRUZADAS, A GRANDE RESPOSTA DE UM ELENCO MAGNÍFICO!

Os EUA já gostam de um acerto de contas com o passado, isto é fato. Ainda mais quando este passado significa uma ferida que ficou aberta décadas e que trás nas medidas proporções uma reflexão, mesmo que mais suave do que obviamente teria sido. Em "Histórias Cruzadas" do diretor Tate Taylor voltamos à década de 60 no Mississipi para contar a trajetória das empregadas negras, criando durante toda a vida os filhos dos "brancos", deixando de cuidar dos seus próprios para poder sobreviver. Em um ambiente claramente preconceituoso, elas vivem como semi escravas, cada uma com sua dor e precisando seguir o caminho sem olhar para trás.



Uma recém formada jornalista Skeeter Phelan, vivida por Emma Stone retorna à cidade e ao observar o quadro de abuso, resolve tomar os depoimentos destas mulheres tão sofridas, tomando como exemplo ela mesma, criada por uma negra que sem explicações desaparece quando ela retorna da faculdade. A única explicação dada pela mãe é que ela havia sido despedida, pois era a atitude certa a ser tomada e sem mais comentários, mesmo depois de mais de quarenta anos servindo fielmente à família. Na outra ponta do vértice temos a cruel Hilly Holbroock, vivida por Bryce Dallas Howard com sua vida frívola, sua inveja e seu projeto de um banheiro separado para as negras, para que as mulheres da cidade não sejam "contaminadas" por certas doenças, que só esta população supostamente teria.



Quando tudo parece perdido surge Aibeleen Clark, uma Viola Davis sofrida e amargurada, lutando para superar a morte de um filho em uma atuação merecedora da Indicação ao "Oscar" de melhor atriz e que foi vitoriosa no "Sag Awards", o sindicato dos profissionais da área de atuação. Com muito medo ela se une à corajosa e irreverente Minny Jackson, uma Octavia Spencer que rouba o filme cada vez que aparece, para começar a contar suas verdadeiras histórias, ao mesmo tempo em que tentam convencer as outras domésticas a fazerem o mesmo.



O romance "The Help" de Kathryn Stocklett, foi o livro mais vendido nos estados unidos em 2011 e chamou a atenção do diretor, por ele mesmo ter vivido situação semelhante. É um filme de mulheres com atrizes poderosas como Jessica Chastain, Alisson Janney, Cicely Tyson, Sissy Spacek, Mary Steenburgen, além das já citadas Emma, Viola e Octavia. O filme é emocionate e dá voz a mulheres que nunca tiveram sequer a chance de ergue-la e lutar pelos seus direitos. Faz isso com extrema sobriedade em planos abertos de uma cidade ensolarada, com uma felicidade plástica e a vida fútil de donas de casa preocupadas somente em controlar umas as outras, ou em arrumar um casamento que lhes deixe em situação confortável.



Do outro lado, nos casebres entra em foco o sofrimento mudo dos serviçais, sempre com seu sorriso amarelo, suas humilhações e sua esperança no futuro, representado à época por Martin Luther King, um ativista pelos direitos dos negros. Martin era a única esperança de uma época vergonhosa e que agora tem o seu ajuste de contas em um filme capaz de surpreender no "Oscar". Pode não parecer muita coisa, mas o filme foi o ganhador do "Sag Awards" de melhor elenco do ano. Uma premiação com um peso muito grande a ponto de influenciar os tão famosos envelopes fechados e que serão abertos de 26 de fevereiro. A grande questão é: será que os acadêmicos já estão tão liberais a ponto de reparar com um prêmio uma grande injustiça, que continua de forma velada?

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