COM QUANTOS HOMENS VOCÊ DORMIU ANTES DE ME CONHECER?

Durante muitas décadas a mulher foi submissa, preparada para casamentos arranjados. Vivia à mercê de não ficar solteirona, pois era completamente improvável ter um relacionamento antes de se casar ou então na melhor das hipóteses; se apaixonava, vivia para o lar, criava os filhos enquanto o marido cuidava do sustento da casa. Ela, como sempre deixando tudo preparado para quando o homem da sua vida chegasse: jantinha pronta, os filhos todos arrumados, a casa impecável, um sorriso de dever cumprido nos lábios. Então ele chegava, ia direto para o banho, depois esperava ela colocar a sua  janta no prato, sentava para ver a sua televisão no seu programa favorito e na hora de dormir, se estivesse com disposição o sexo seria parte de suas vidas naquela noite, se não, ele virava para o lado, dizia que o dia foi massacrante e com exatos dois minutos já estaria roncando a plenos pulmões.

Essa mulher tinha muita sorte quando o marido não era violento, quando não bebia e a espancava regularmente. Quando ele não a procurava sexualmente por muito tempo ela percebia que os serões no escritório estavam cada vez maiores, cheiros diferentes em suas roupas, um ar distante e só então ela desconfiava que existia outra, sofrendo calada em casamentos de 20,30 ou 50 anos, ou pelos filhos, ou por amor ou na maioria das vezes, por vergonha.

Pois um dia essa mulher acordou de forma diferente, sentou enquanto fazia o café da manhã tomando uma decisão: com o passar dos anos fez questão que os filhos estudassem, fossem independentes, a filha formou-se para orgulho de toda a família e um pouco mais tarde apresentou o namorado. Era um rapaz muito bonito, bem parecido com o seu próprio marido quando jovem, promissor, de família bem conceituada na cidade, com sobrenome respeitado, imediatamente tornando-se orgulho do pai, enquanto a mãe observava sem dizer palavra, apenas sorria sutilmente...

A filha do meio engatou um relacionamento escondido e entre tapas e beijos, descobriu que o suposto namorado era casado. Não desistiu e foi levando até onde foi possível este amor. A mãe descobriu e dava desculpas constantes para os rápidos sumiços da filha e quando ela saía louca de felicidade para encontrar aquele a que tanto desejava, ela sorria e também sentia parte daquele desejo louco, improvável mas real, arriscado, mas vivo, determinado e mesmo quando a filha com os olhos inchados de tanto sofrer por amor desabafava, ela sentava e calada, ouvia e se sentia parte daquele universo que jamais conhecera.

O filho varão e caçula saiu de casa rápido e foi estudar fora. Como toda mãe zelosa ela derramou algumas lágrimas, enquanto ele apressado saía sem perceber, sequer olhar para trás. Um novo mundo se abria com mil oportunidades e ele ansiava por cada segundo dele.

Hoje, as mulheres já passaram por várias etapas libertadoras, estando em posição de negociar uma relação a dois com liberdade, deixando para trás alguns tabus repressores, focadas no mercado de trabalho então eis a questão: será que tudo mudou tanto assim? Uma pesquisa bem recente com resultados muito interessantes dão conta de que esta mulher atual, ainda sofre violência física, ainda cria os filhos muitas vezes sozinha, pois foi abandonada e pior, a maioria delas quando confrontada afirmavam sem pestanejar: voltavam imediatamente para o marido agressor, pois com certeza ele não faria de novo, estava mudado, mais carinhoso e feito a promessa mais mentirosa de todas: isso não vai acontecer de novo, pois eu te amo!

Ela então não pensou sequer duas vezes e na fração de segundo seguinte analisou a sua situação. A resposta jorrou como o sangue ainda visível nos cantos da boca e veio implacável: sem formação alguma, sem preparo, como ela enfrentaria o mundo lá fora? Já não era tão jovem, não havia a menor possibilidade de voltar para a casa dos pais, então... só lhe restava viver sob o mesmo tempo com o mesmo homem que a espancava por puro prazer, enquanto tomava coragem para pedir ajuda ou quem sabe fugir com os filhos, mas.. para onde?

Essa mulher com muita vergonha, sorrindo um sorriso meio torto, devido aos lábios inchados e o rosto marcado, respondeu com um brilho fosco no olhar, as mãos ligeiramente trêmulas e a voz hesitante, que a primeira surra a surpreendeu quando o marido inesperadamente e com muita calma, quase docemente,  fez a pergunta:

_ Com quantos homens você dormiu antes de me conhecer?