Confesso que tenho uma implicância explícita com os "Bairristas". Os chamo assim pela forma com que definem de forma simplista a Zona sul, Norte, Oeste, Baixada e por aí vai. Não vamos comparar a liberdade de uma praia na Farme de Amoedo com um passeio de mãos dadas pela Avenida Presidente Kennedy no centro de Duque de Caxias. No primeiro, os casais ficam à vontade sejam eles gays, lésbicas, simpatizantes, travestis, bissexuais. Obviamente o casal de Caxias disposto a enfrentar o preconceito, vai precisar de pernas vigorosas para uma boa corrida ou de muita coragem para se impor, pois as pessoas menos esclarecidas entendem este gesto de carinho como uma agressão ao seu bem estar e de sua família. Assim mesmo existem os que defendem, discutem e entendem o valor da questão envolvida.
Sou do tempo das siglas menores, como GLS. Agora o politicamente correto acrescentou um alfabeto inteiro e eu não sei quem é G ou B, T ou Z, aliás não sei de mais nada, a velocidade com que as coisas mudam hoje não dimensionam o amanhã , melhor deixar as águas seguirem seu curso natural.
Já ouvi muita coisa, piadas infames, humilhantes sobre os que moram mais longe e cheguei a uma conclusão: não vou deixar passar em branco. É absurdo ouvir alguém falar simplesmente que os "pobres" são despejados aos montes nos shoppings, como se a função do shopping não fosse justamente receber todas as camadas sociais, facilitando a vida de quem procura unir o conforto de um local ao sonho de adquirir o seu objeto de desejo. Ou então as lojas fazem parcelas sem juros para quem?
Existe um cuidado com a aparência, o desenho, a beleza das ruas da Zona sul, que não existe na Baixada, isso é fato. Algumas casas da Zona Norte e da Baixada abrigam confortavelmente uma família, enquanto em certos bairros da Zona Sul os conjugados abrigam um número inacreditável de beliches, onde dormem sem conforto algum, todos os defensores de uma vida próxima às suas prioridades. Uma vida noturna movimentada, praias, boites, estar perto da batalha, do trampo. Esta ocupação camaleônica possui mil faces, carregando junto o propósito de em alguns casos, misturar-se aos bem nascidos, à procura de boas oportunidades, para depois batendo no peito, soltarem o lema: jamais passariam horas em ônibus ou metrô, seria desconfortável, além da questão importantíssima: no fim da balada como voltar para casa?
Há um ponto interessante entre os "Bairristas". Já conheci alguns saídos do subúrbio e logo depois já estavam estabilizados em um bom endereço graças a um bom mantenedor. Junta-se o útil ao agradável: a juventude acaba com a solidão e em troca cria-se todo um histórico de vida. Quando algum amigo pergunta a resposta já sai no ponto: Fulano? Nasceu na Nascimento e Silva, os pais mudaram para uma cobertura na Barra, mas nós já estávamos apaixonados e ele ficou comigo. Não é lindo? Parece boletim de colégio adulterado, todas as notas são altas, não tem recuperação... bem pelo menos enquanto durar o namoro, se acabar é encontrar outro pato e manter as aparências. Voltar para o suburbão? Nem pensar!
Culturalmente levamos em consideração as limitações dos moradores vivendo em lugares sem acesso a cinema, lonas culturais, praias, teatro (este então está um absurdo para os padrões da classe média baixa). O movimentos nas comunidades em busca de liberdade está nos bailes Funk, nas Festas juninas, nos churrascos de fim de semana regados a muita cerveja com a TV ligada no jogo de futebol. Naquele pé sujo onde o batuque anima o domingo, aproxima as pessoas e cria uma conexão, a diversão não é menor, ou inferior e sim autêntica, expressiva, barulhenta e algumas vezes acaba em um delicioso barraco, logo depois aplacado por mais algumas cervejas para comemorar o fim da briga.
Portanto: parabéns aos bem nascidos, aos points badalados e um beijo especial aos jovens do subúrbio sempre fazendo a diferença. É uma aula obrigatória de sobrevivência com salários baixos, poucas oportunidades, mas uma incrível energia para criar a magia que muitas vezes serve de ponte, trazendo os jovens da Zona Sul para curtir os programas fora do eixo dos Mauricinhos e Patricinhas.
Então, começa um novo mix, em lugares novos, quebrando paradigmas, ajudando a socializar os excluídos, trocando, aprendendo, convivendo e desmistificando valores que a sociedade cria.
Cairão por terra os Preconceitos já estabelecidos que só mesmo os jovens podem derrubar, como um certo muro já derrubado há anos. Não vamos criar outro, nem mesmo invisível!
Realmente, não deveríamos alimentar a existência de castas. Já não existe espaço pra isso, a não ser na mente de pessoas que se julgam acima da média. Melhor dizendo, média com pão e manteiga.
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