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16 de dezembro de 2011

SEXO, LIBERDADE, GENIALIDADE: ALMODÓVAR


Pedro Almodóvar Caballero, ou simplesmente Almodóvar é o cineasta espanhol com uma filmografia mais do que interessante,  exuberante. Carregado nas tintas, no kitsch, na sexualidade reprimida e com um enfoque especial nas mulheres fortes, construiu obras de intensa voltagem dramática. O Kitsch tão comentado e tão usado por este Diretor surpreendente remete à sua filmografia mais antiga, onde ele abusava das cores, do figurino quase cafona, dos personagens excêntricos, das mulheres, sempre elas, com suas doses exageradas de drama e comédia, com uma linha tênue entre elas.

Homossexual assumido, possui em sua arte a mistura da pintura, teatro, música e dos elementos necessários para ir da comédia rasgada ao melodrama assumido, sempre com distância mínima entre os opostos. Sua idade é mais um dos grandes mistérios que todos tentam descobrir. Teria nascido em 1949, 50 e 51. Uma de suas tão famosas frases é: "Existe a necessidade absoluta de se sentir desejado e neste círculo do desejo é muito raro que dois desejos se encontrem e se correspondam, o que é uma das grandes tragédias do ser humano".





Um diretor de obsessões, transgressor, colocando sempre na fala de seus personagens as falas mais bizarras e grosseiras, sempre com uma naturalidade desconcertante. Femininas, frágeis, misteriosas, histéricas, a mulher sempre foi o ideal melodramático daquele que brinca sempre com a sexualidade desconstruindo homem, mulher, transsexual, travesti. Os homens na maioria das vezes são os vilões, machistas que são eliminados deste mundo exclusivo e a batalha metáforica contra o preconceito surge na forma dos rejeitados e das cenas marcantes onde estupro, drogas e diferentes formas de amor surgem na tela como um tapa, vindo acordar um público, que nos anos 80 sentia o impacto do novo, o frescor de um vento libertador, onde a originalidade e a estética marcaram uma geração ávida por uma linguagem sincera e cortante.


Como o fim do Franquismo, a "Movida Madrilenã" efervecência social que tomou Madri, mostrou o mundo a partir de 1974, um realizador provocante e disposto a ir contra os preconceitos arcaicos da época. Colocando  o foco em uma época difícil, convém explicar a chegada de Francisco Franco ao poder em 1937. Foram três décadas de um regime extremamente conservador, sobrevivendo até mesmo a queda de Mussolini e Hitler, aliados à sua chegada ao poder. As películas eram filmadas em Super 8 e mostravam o tom certo de liberdade e peculiaridade constantes no decorrer da carreira de nosso diretor: "Duas putas ou história de amor que termina em bodas", "A Queda de Sodoma", "Sexo vai... Sexo vem" e o primeiro longa "Pepi,Lucy, Bom e outras chicas de montão" manteve o estilo escrachado e aumentou o número de fãs, um começo libertador para o que viria logo a seguir.


"Labirinto de Paixões" com uma de suas colaboradoras Cecilia Roth, mostrou o caminho da paixão obsessiva. Foi eufórico, performático, exibicionista, o primeiro longa cheio de desejos, vida e não se preocupando muito com a coerência narrativa, mais tarde obrigatória em todos os seus longas. As freiras nada conservadoras de "Maus Hábitos", "Matador" e "Lei do Desejo", politicamente incorretos e cheios das obsessões do diretor: O melodrama rasgado, paixões obsessivas, intensidade e sempre a questão perda e morte. Foi então o momento de sua descoberta por Hollywood. A passagem veio com"Mulheres à beira de um ataque de nervos", sucesso imediato, graças a muito colorido, uma Carmen Maura espetacular, um roteiro engraçado, leve e Antonio Banderas sexy, preparando-se também para alçar vôo.


Os riscos de ser "Cult" e manter um padrão para agradar ao público ávido pelo mesmo estilo só esteve em "Ata-me", outra parceria com Banderas, o latino sexy, apaixonado, conquistando o mundo e fechando o ciclo, para ousar nos filmes seguintes. Não caberia na sempre inovadora filmografia de Almodóvar o termo Cult. Apesar de amado por uma legião de fãs, ele acaba desconstruindo com enorme talento qualquer estereótipo, dividindo opiniões, conseguindo até mesmo confundir os críticos e só isso já basta para provar seu horror à mesmice.
"Kika" escandalizou com uma cena de estupro enorme e incômoda para a época, usou figurinos de Jean Paul Gaultier e espetou a imprensa com a personagem "Andrea Caracortada" uma jornalista sem ética ou limites. "De Salto alto" foi a parceria inesperada com Miguel Bosé, feito conscientemente para agradar as platéias dos festivais. Vaidade? Quem nunca teve, atire a primeira pedra.


Marisa Paredes, parceira constante foi a protagonista do singelo "A Flor do meu segredo", melodrama sem pudor, reafirmando seu amor pelas mulheres aparentemente frágeis, responsáveis por grandes segredos, sacrifícios e uma força e amor incontroláveis. "Carne Trêmula" iniciou a fase decepção amorosa, obsessão e  uma fantástica parceria com o teatro, dança e música. Fase nova, criando identificação imediata com as platéia encantadas com "Tudo Sobre minha mãe", parceria das incríveis Marisa Paredes e Cecilia Roth, em um filme emocionante.


"Fale com ela" trouxe a arte, a paixão, a obsessão e o amor impossível dentro de uma cadeia de acontecimentos imprevisíveis. Enquanto as personagens femininas se mantinham impassíveis em um hospital, os homens são obrigados a questionar tudo, até mesmo o limite de uma amizade nascida de uma tragédia. Emocionante a cada cena, ainda traz o charme de Geraldine Chaplin para coroar este show de roteiro e interpretações.
O brilho se manteve com menos intensidade em "Má Educação" com Gael Garcia Bernal, mas reapareceria logo depois com "Volver". Elenco impecável e a volta de Carmen Maura ao lado de Penélope Cruz num duo espetacular, dentro de um roteiro de emoções à flor da pele, do amor familiar e da morte, uma obsessão recorrente, que encontra dentro deste longa uma solução que redefine toda uma perspectiva lúcida, para nos trazer o lúdico e nos fazer cúmplices de uma família onde todas as mulheres e suas amigas dimensionam uma vida mais do que trágica, real e de rachar o coração.


Neste momento o homem que tornava as mulheres peças-chave e os homens coadjuvantes nos entrega de mão beijada um fascinante retrato de um homem duplo, Mateo ou Harry carregando nas costas a dor do amor perdido. É uma trama onde a louca paixão, o ciúme doentio e a beleza muito bem fotografada de  Penélope Cruz, são o início da retratação aos personagens masculinos, relegados a segundo plano, mas com a atuação hipnótica de Luis Homar, dilacerante na pele de um escritor cego e misterioso, traz à tona um carrossel de imagens grandiosas e cheias de significado. A Mais intrigante delas a escultura móbile, em uma encruzilhada responsável por mudar a vida do protagonista e inspirar piedade por um ser humano frágil e fascinante, usando um pseudônimo para apagar toda a sua vida anterior,mas obrigado a enfrentar seus fantasmas para viver em paz com sua dor.


Neste momento o homem que tornava as mulheres peças-chave e os homens coadjuvantes nos entrega de mão beijada um fascinante retrato de um homem duplo, Mateo ou Harry carregando nas costas a dor do amor perdido. É uma trama onde a louca paixão, o ciúme doentio e a beleza muito bem fotografada de  Penélope Cruz, são o início da retratação aos personagens masculinos, relegados a segundo plano, mas com a atuação hipnótica de Luis Homar, dilacerante na pele de um escritor cego e misterioso, traz à tona um carrossel de imagens grandiosas e cheias de significado. A Mais intrigante delas a escultura móbile, em uma encruzilhada responsável por mudar a vida do protagonista e inspirar piedade por um ser humano frágil e fascinante, usando um pseudônimo para apagar toda a sua vida anterior,mas obrigado a enfrentar seus fantasmas para viver em paz com sua dor.

     


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